Luisa Golo (Contatos nosso com a prórpia Luisa na Itália)
 
Che sarà

Jimmy Fontana

Paese mio che stai sulla collina,
disteso come un vecchio addormentato
la noia, l'abbandono, il niente son la tua malattia,
paese mio ti lascio io vado via.

Che sarà, che sarà, che sarà.
Che sarà della mia vita chi lo sa.
So far tutto o forse niente, da domani si vedrà,
e sarà, sarà quel che sarà.

Gli amici miei son quasi tutti via
e gli altri partiranno dopo me.
Peccato perché stavo bene in loro compagnia,
ma tutto passa, tutto se ne và.

Che sarà, che sarà, che sarà.
Che sarà della mia vita chi lo sa.
Con me porto la chitarra e se la notte piangerò,
una nenia di paese suonerò.

Amore mio ti bacio sulla bocca
che fu la fonte del mio primo amor,
ti do l'appuntamento dove e quando non lo so,
ma so soltanto che ritornerò.

Che sarà, che sarà………..

Il copione di um film? O la realtà di um villaggio, perso in alto, tra le montagne, i cui abitanti erano costretti a scegliere tra una vita di stenti e una ricerca di una vita lontano dai propri familiari?  E perché non le due cose? La realtà in cui le persone hanno visto amori finire, legami spezzati,  vite dividersi, parenti che si allontanano senza previsione di um retorno? E allo stesso tempo, il copione di um dramma condotto dal suo regista fino ad arrivare ad um lieto fine?  

Chissà che stava pensando Jimmy Fontana e Franco Migliacci, quando, nel 1971,  composero la canzone ¨Che sarà¨, che devienne l`inno di molte famiglie di Luserna, paesino situato in cima alle Alpi italiani, com meno di 300 abitanti? Difficile saperlo. Uma cosa, comunque, è certa. Molti di quelli che restarono, non hanno mai perso la speranza del retorno di chi se ne era andato. Anche com il passare dei giorni, dei mesi, degli anni, dei decenni, dei secoli. Cosa sono giorni, mesi, anni, decenni per chi ha la speranza in cuore? Quando um filo di speranza resiste, non “tudo passa, tudo acaba um dia”.  

È stato questo filo di speranza, tenue come um piccolo raggio di luce, tra le nubi nere dela realtà, che non ha permesso che si spegnesse il desiderio dei componenti di una famiglia di ritrovare, dopo più di um secolo, le radici della quali erano partiti. La luce che, 130 anni  dopo la partenza dele sorelle Anna e Maria, è riuscita a fendere l`oscurità dela separazione e a far brillare la luce del reincontro.  

Anna e Maria, sposate con i fratelli Attilio e Albino Bertoldi, erano partiti dall`Italia nel 1875,  ala ricerca di uma vita decente nella “ Merica, Merica, Merica” e vennero a stabilirsi nel mezzo della foresta di Alfredo Chaves, in Espirito Santo. Avevano lasciato dietro di se una nomerosa famiglia con padre, madre e dieci fratelli, tra loro Simeone.  

Nicolussi. Nicolussi era il cognome di Simeone e dele due sorelle Anna e Maria.  

Questo filo fu el legame tra Luserna e Vitória, capitale di Espírito Santo, dove i discendenti di Maria avavano già piantati loro radici. Nicolussi risvegliò l`attenzione di Luisa Nicolussi Golo, bisnipote di Simeone, quando navegando – ora per le onde di internet e non più dentro l estive dele navi che portavano gli emigrante – sii era imbattuta negli stessi nomi e cognome dei suoi antenati. Antenati questi, che non si allontanavano dalla memoria di quelli che avevano continuato a vivere nella “ cidade querida, que estás sobre a colina”.  

Anna e Maria  rimanevano nella memoria di Luisa, anche se ogni giorno più distanti, già quase una legenda, ripetuta e mantenuta, dai suoi antenati, e che molti, ormai, ritenevano trattarsi sollo di uma legenda. Anna, Maria e Luisa. Um filo isolato di speranza che cominciò ad illuminarsi quando Luisa lesse  i nomi di Anna e Maria in um sito internet della Famiglia Bertoldi. Erano già ter fili – Anna , Maria e Luisa – che iniziarono una prima trama e andarono trasformandosi in un tessuto di colori vivi nel continuo scambio di informazioni e di scoperte tra Luserna e Vitória. Da quel momento, i ricordi divennero più nitidi e la Merica prese forma. Era il Brasile. Il paese lontano e la sorrela Anna, afftetuosamente chiamata Anneta, e Maria, non erano più legende,  né invenzione di um dramma sotto l`obiettivo di um bravo regista cinematografico. Era uma realtà.  

I rapidi e quasi frenetici scambi di messaggi e le scoperte che portarono alla certeza che Anna, Maria e Simeone erano veramente fratelli, culminarono nel 2005 - esattamente 130 anni dopo la partenza di Anna con suo marito Attilio e di Maria con suo marito Albino – con un incontro commovente  tra la famiglia di una bisnipote di Simeone, Luisa Nicolussi e la famiglia di un bisnipote di Maria, Clodomir Bertoldi.  

Il luogo di questo incontro? Lo stesso dove tutto era cominciato e che sembrava svegliarsi di um lungo e profondo sonno, il paesino sulla colina, disteso come um veccho adormentato: Luserna

O que será

Cidade minha que estás sobre a colina
Deitada como um velho adormecido
O tédio, o abandono, o nada são a tua doença
Cidade minha, deixo-te e vou embora..

O que será, o que será, o que será
O que será da minha vida, quem o sabe?
Sei fazer de tudo, ou talvez nada, amanhã saber-se-á
E será, será aquilo que será.


Meus amigos quase todos foram embora
E os outros partirão depois de mim.
É uma pena pois eu estava bem na companhia deles
Mas tudo passa, tudo se vai.

O que será, o que será, o que será.
O que será da minha vida, quem o sabe.
Levo comigo a guitarra e se de noite chorarei,
Uma música de minha cidade cantarei.


Meu amor, te dou um beijo na boca
Que foi a fonte do meu primeiro amor.
Com ti marco um novo encontro, onde e quando não sei
Mas sei somente que voltarei.

O que será, o que será o que será....

Um roteiro de filme. Ou a realidade de uma aldeiazinha perdida no alto das montanhas, cujos moradores tinham que escolher entre viver à míngua ou buscar vida decente longe dos seus? Por que não as duas coisas? A real, em que as pessoas viram amores acabarem, laços se romperem, vidas se partirem, parentes se afastarem sem previsão de retorno? E, ao mesmo tempo, um roteiro de um  drama, manobrado por um diretor até chegar a um final feliz?

O que estariam pensando Jimmy Fontana e Franco Migliacci, quando, em 1971, compuseram a canção “Che sarà”, que virou hino de muitas famílias de Luserna, cidadezinha no alto dos Alpes italianos, com cerca de 300 habitantes? Difícil saber. Uma coisa, porém, é certa. Muitos daqueles que ficaram nunca perderam a esperança do retorno daqueles que se foram. Mesmo com o passar dos dias, dos meses, dos anos das décadas e até século, O que são dias, meses, anos, décadas para quem tem esperança no coração? Quando um fio de esperança ainda existe, nem “tutto passa, tutto se ne và”


Foi esse fio de esperança, tênue como um pequeno raio de luz entre as negras nuvens da realidade, que não deixou se apagar o desejo de uma família, de reencontrar, mais de um século depois, as raízes dos que partiram. Um fio ... uma luz. Nico ... lussi. Este nome foi o fio, este nome foi a luz. A luz que, 130 anos depois da partida das irmãs Anna e Maria, conseguiu rasgar a escuridão da separação e fazer brilhar a luz do reencontro.

Anna e Maria, casadas com os irmãos Attilio e Albino Bertoldi, partiram da Itália em 1875, em busca de uma vida decente na “Mérica, Mérica, Mérica”, e vieram parar no meio das florestas de Alfredo Chaves, Espírito Santo, Brasil. Deixavam para traz a numerosa família de pai, mãe e dez irmãos, entre eles Simone (Simão).

Nicolussi, Nicolussi era o sobrenome de Simone e das irmãs Anna e Maria.

Esse fio foi a ligação entre Luserna e Vitória, onde os descendentes de Maria já tinha criado raízes. Nicolussi despertou a atenção de Luisa Nicolussi Golo, bisneta de Simone Nicolussi, quando, navegando – agora pelas ondas da internet e não mais em porões de navios que traziam os imigrantes - encontrou os nomes e sobrenomes de seus antepassados. Antepassados esses que não saíam da memória dos que continuaram vivendo no “paese mio che stai sulla colina”.

Anna e Maria permaneciam na memória de Luisa Nicolussi, cada vez mais distante, já como uma lenda, repetida e mantida pelos antepassados, mas que muitos acreditavam ser apenas uma lenda. Anna, Maria e Luisa Nicolussi. Um fio isolado de esperança que começou a se iluminar quando Luisa leu os nomes de Anna e Maria no site da Família Bertoldi. Já eram três fios, Anna, Maria e Luisa, que iniciaram um entrelaçamento e foram se transformando em um tecido com cores vivas, nas contínuas trocas de informações e descobertas entre Luserna e Vitória. Aí então, as recordações se  tornaram nítidas e a América tomou forma. Era o Brasil, o país longínquo e as irmãs Anna (carinhosamente chamada de Annetta – Aninha) e Maria, não eram mais lenda nem ficção de um drama nas lentes de um competente diretor de cinema.

As céleres e quase frenéticas trocas de mensagens e as descobertas que levaram à certeza de que Anna, Maria e Simone Nicolussi eram irmãos, culminaram em 2005  - exatos 130 anos depois da partida de Anna, com seu marido Attilio, e Maria, com seu marido Albino – com um encontro emocionante entre a família de uma boisneta de Sinome, Luisa, e a família de um bisneto de Maria, Clodomir.

O local desse encontro? O mesmo onde tudo começou e que parecia despertar de um  profundo e longo sono, o lugarejo “disteso sulla collina come um vecchio addormentato”, Luserna.

Com o site da Família Bertoldi na Internet, eram muitas as mensagens recebidas de outros Bertoldi à procura de um parentesco ou da origem de seus ancentrais. E no dia 23 de abril de 2005 recebi o e-mail abaixo, de Luisa Golo, que procurava notícias de duas irmãs de seu bisavô que tinham viajado para o Brasil, mas cujas notícias tinham se perdido no tempo.

O e-mail dizia o seguinte: “Ho trovato notizie della famiglia di Albino Bertoldi che partì da Levico nel 1875 con la moglie Maria Nicolussi e con il fratello. Ora, io ho sempre sentito parlare di due sorelle di mio bisnonno, Simone Nicolussi, sposatesi con due fratelli di Levico e partite per il Brasile proprio in quegli anni. Le due donne erano originarie di Luserna ed erano Nicolussi di cognome. Da quanto di mia conoscenza, non credo che il cognome Nicolussi sia di Levico e dunque credo che la moglie di Albino Bertoldi non fosse originaria di Levico. Potrebbe essere di Luserna, paese in cui il cognome Nicolussi è molto diffuso. Mi piacerebbe sapere di più su Albino e sua moglie, chissà se non sono anche parenti miei. Grazie.
Il mio indirizzo e-mail è: golomn2005@yahoo.it
Tanti cordiali saluti. Luisa
”.

Traduzindo, ela disse o seguinte: “Encontrei informações sobre a família de Albino Bertoldi que partiu de Levico em 1875 com a mulher Maria Nicolussi e com o irmão. Eu sempre ouvi falar de duas irmãs de meu bisavô Simone Nicolussi, casadas com dois irmãos de Levico e que partiram para o Brasil naqueles anos. As duas mulheres eram originárias de Luserna e tinham o sobrenome Nicolussi. Pelo que conheço, não creio que o sobrenome Nicolussi seja de Levico, por isso acho que a mulher de Albino Bertoldi não era originária de Levico. Poderia ser de Luserna, cidade onde o sobrenome Nicolussi é muito comum. Gostaria de saber mais sobre Albino e sua mulher. Quem sabe se não são também parentes meus. Obrigado.
Meu endereço eletrônico é golomn2005@yahoo.it.
Cordiais saudações. Luisa.

Dias depois respondi ao e-mail de Luisa contando um pouco da história de Albino e Attilio Bertoldi que eram casados com duas irmãs.

No dia 14 de junho recebi o retorno das informações que mandei.
Luisa escrevia o seguinte: “Ciao, ho ricevuto con molto piacere le tue mail. In internet ho trovato il sito della tua famiglia ed ho potuto vedere che Maria era originaria di Luserna, tra l'altro ho trovato anche la sua data di nascita e con questa spero di poter effettuare delle ricerche presso l'archivio parrocchiale nei prossimi giorni. Mi piacerebbe proprio che fosse una delle prozie di mio padre che ora ha 83 anni e che di questi parenti lontani ha creato, per noi bambini, quasi una leggenda, in ogni caso ti farò eventualmente sapere chi sono i tuoi parenti a Luserna (attualmente siamo 300 abitanti).
Appena saprò qualcosa in più ti farò sapere. Un saluto da Luserna. Luisa”.

A mensagem quer dizer o seguinte: "Olá. Recebi com muito prazer teu e-mail. Encontrei o site da tua família na Internet e pude ver que Maria era originária de Luserna. Entre outras coisas vi também a data de seu nascimento e com isso espero poder fazer pesquisas no arquivo paroquial nos próximos dias. Ficarei muito feliz se ela for uma das tias-avós de meu pai que está com 83 anos e que desses parentes longínquos criou, para nós crianças, quase uma lenda. De qualquer forma informar-te-ei quem são teus parentes de Luserna. (Atualmente somos 300 habitantes).
Assim que souber alguma coisa mais informarei. Um abraço de Luserna. Luisa”.

Dias depois, escrevi de novo para Luisa. Desta vez consegui guardar a mensagem que enviei.
“Ciao Luisa,
Ti ho già risposto, ma non so se hai ricevuta la mia mail. Una delle due
sorelle di tuo bisnonno Sinone, certamente sarà Maria. Nicolussi Maria, nata
a Luserna, si è sposata con Bertoldi Albino, mio bisnonno, venuto in Brasile
il 1875. Il fratello di Albino, di nome Attilio, é venuto insieme a lui ed
era sposato con Anna, di cui non so il cognome. Se le due sorelle di Simone
erano Maria e Anna, sai che sono parenti di te.
Fatti sentire.
Saluti.
Clodomir Bertoldi”.

Quer dizer o seguinte: “Já te respondi, mas não sei se recebeste meu recado. Uma das duas irmãs de seu bisavô Simone, certamente era Maria. Maria Nicolussi, nascida em Luserna e casada com Albino Bertoldi, meu bisavô, que veio para o Brasil em 1875. O irmão de Albino, de nome Attilio, veio junto com ele e era casado com Anna, cujo sobrenome não seu qual era. Se as duas irmãs de Simone eram Maria e Ana, pode ter certeza que são tuas parentes. Escreva. Saudações. Clodomir”.

No dia 25 de julho recebia nova mensagem de Luisa:
“Ciao Clodomir,
Credo proprio che siamo parenti. Infatti, dalle mie ricerche negli archivi parrocchiali, ma anche dai ricordi di mia zia Maria e di mio padre, Maria Nicolussi era proprio Maria Nicolussi Rossi, sorella di Simone Nicolussi Rossi. E la seconda sorella si chiamava Anna, come la moglie del fratello di vostro bisnonno. A questo punto credo di non avere più dubbi e ti racconto le cose per ordine. Anna, Maria e Simone erano tre dei dieci (circa, qui il ricordo è confuso) figli di Orsola.
Anna e Maria si sposarono con due fratelli di Levico e ben presto partirono per l'America in cerca di fortuna. A quel tempo non si facevano distinzioni tra un paese e l'altro, tutto era America e significava non vedersi più. Simone si sposò con Caterina ed ebbe una figlia, Rosa. Ma Caterina morì molto giovane, Rosa aveva solo sei o sette anni, e la piccola venne allevata dal padre e dalla nonna Orsola. Per questo Rosa ebbe modo di leggere le lettere che le due zie mandavano alla loro madre, e qualche volta, con la sua calligrafia di bambina, aggiungeva i suoi saluti. Rosa, divenuta grande, si sposò con Giovanni ed ebbe due figli, Beniamino, mio padre appunto, e Maria. E lei, anche dopo la morte della nonna, continuò a scrivere ai parenti lontani. Purtroppo il destino non le riservava nulla di buono ed anche lei morì molto giovane di tumore. A questo punto credo i rapporti si interruppero ma sia mia zia che mio padre non dimenticarono le sorelle del nonno, che tra l'altro visse in casa con loro. E, nel trempo, il racconto di queste due zie, sposate con due fratelli e partite per l'America divenne quasi una leggenda al punto che noi avevamo qualche dubbio che tutto ciò fosse realtà.
Ora non ti dico l'emozione che ho letto sui volti di mio padre e della mia zia, ormai anziani, quando ho detto loro di aver trovato discendenti di Maria in Brasile. A quel punto i ricordi tornarono nitidi e l'America prese forma, si, era il Brasile il paese lontano, e la sorella era l'Anna, affettuosamente chiamata Annetta.
Purtroppo a loro non è rimasto niente del tempo andato, nessuna immagine, a quei tempi non ce n'erano forse nemmeno... nessun scritto, tutto però sta nei loro ricordi, nel ricordo della voce greve del loro nonno che raccontava e sognava di rivedere durante la sua lunga vita, quelle sue due amate sorelle. Ma ciò non fu. Chissà nonno Simone se avesse solo potuto immaginare che un giorno, con una semplice scatola, una sua pronipote avrebbe ritrovato i discendenti di Maria... Così vorrei chiederti se per caso a voi sia rimasta qualche foto dei vostri bisnonni, o qualche lettera, qualcosa insomma che possa farci, per un attimo, immaginarli ancora qui, nel nostro piccolo paesino abbarricato sulla cima di una montagna che, un giorno decisero di scendere per non risalire mai più.
Ora devo per forza salutarvi ma sarebbo bello, quando venite in Italia, se ci potessimo magari conoscere. Un saluto da Luserna. Luisa
P.s. sul sito www.lusern.it trovate notizie ed immagini del nostro piccolo paesino, tra l'altro conosciuto per l'antica lingua parlata dai suoi abitanti: il cimbro."

Traduzindo, ela diz o seguinte:
“Creio mesmo que somos parentes. De fato, pelas minhas pesquisas nos arquivos paroquiais, mas também pelas lembranças de minha tia Maria e de meu próprio pai, Maria Nicolussi era mesmo Maria Nicolussi Rossi, irmã de Simone Nicolussi Rossi. E a segunda irmã se chamava Anna, como a mulher do irmão de seu bisavô. Com isso acredito não haver mais nenhuma dúvida e te conto as coisas em ordem. Anna, Maria e Simone eram três dos dez (mais ou menos, aqui a lembrança é confusa) filhos de Orsola.
Anna e Maria se casaram com dois irmãos de Levico e logo depois partiram para a América à procura de fortuna. Naquela época não se fazia distinção entre um país e outro. Tudo era América e significava não se ver mais. Simone se casou com Caterina e teve uma filha, Rosa. Só que Caterina morreu muito jovem. Rosa tinha só seis ou sete anos, e foi criada pelo pai e pela avó. Orsola. Por isso, Rosa pôde ler as cartas que as duas tias mandavam à mãe delas e, algumas vezes, com sua caligrafia de menininha, mandava também suas saudações. Rosa, quando cresceu, se casou com Giovanni e teve dois filhos, Benjamin, meu pai, e Maria. Ela (Rosa) também, depois da morte da avó, continuou a escrever para os parentes longínquos. Infelizmente o destino não lhe reservava nada de bom e também ela morreu muito jovem por causa de um tumor. A partir daí creio que as correspondências se interromperam, mas, seja minha tia (Maria), seja meu pai não esqueceram as irmãs do avô, que vivia em casa com eles. E com o passar do tempo, a história dessas duas tias, casadas com dois irmãos e que partiram para a América, tornou-se praticamente uma lenda, ao ponto de termos algumas dúvidas de que tudo isso fosse realidade.
Agora nem te falo da emoção que li nos olhos de meu pai e de minha tia, já idosos, quando lhes disse que tinha encontrado descendentes de Maria no Brasil. Aí, então, as recordações se tornaram nítidas e a América tomou forma, sim, era o Brasil, o país longínquo e a irmã Anna, afetuosamente chamada Annetta (Aninha).
Infelizmente, não lhes tinha ficado nada daquele tempo, nenhuma imagem, naquele tempo nem seu se já existiam fotografias... nenhuma carta, tudo, porém, continua em sua lembrança, na lembrança da voz grave do avô deles que contava e sonhava em rever durante sua longa vida, aquelas duas amadas irmãs. Isso, porém, não aconteceu. Quem sabe se o nono Simone, se pelo menos pudesse imaginar que um dia, com uma simples caixa (de computador), uma sua bisneta teria reencontrado os descendentes de Maria... Por isso, desejaria pedir-te se, por acaso, sobrou com vocês alguma foto de seus bisavós, ou alguma carta, qualquer coisa que, por um momento, nos faça imagina-los ainda aqui, em nossa pequena cidade abandonada no alto de uma montanha, de onde um dia decidiram descer para nunca mais tornar a subir.
Agora devo despedir-me mas seria lindo, quando vieres à Itália, se pudéssemos nos conhecer. Um grande abraço de Luserna. Luisa.
PS – No site www.lusern.it encontrareis notícias e imagens de nossa pequena cidade, conhecida também por sua antiga língua falada por seus habitantes: o cimbro."

Como nesse período de descobertas de nosso parentesco, os e-mails eram trocados quase que diariamente, eu escrevi novamente a Luisa relatando também a felicidade de ter encontrado parentes tão distantes. Como a preocupação de guardar o que eu escrevia não era grande, não tenho cópia do que enviei para ela. Só sei que pedi para não reparar meus erros ao escrever em italiano. Comentei também que havia recebido mensagens de descendentes de Attilio, o irmão de Albino que veio com ele e, depois de ficar seis meses no Espírito Santo, tinha viajado para o Rio Grande do Sul. Falei também da canção “Che Sarà”, que fala da cidadezinha no alto da montanha abandonada por todos os seus moradores em busca de novos caminhos.

No dia 29 do mesmo mês de julho veio a resposta:
"Ciao, Clodomir
Complimenti per il tuo italiano, direi che è perfetto.
Non sai la commozione che provo scrivendoti se penso che dopo 130 riusciamo a ricostruire le fila di un discorso che sembrava ormai perso per sempre. Sono felice che anche i parenti di Attilio Bertoldi si siano messi in contatto con voi, perchè, essendo anche Anna sorella del mio bisnonno, sono anch'io parente con loro.
La canzone che mi hai scritto la conosco e, una piccola confidenza che ti faccio, quando ero piccola mio fratello me la cantava e non mancava di ricordarmi che quella era la canzone del nostro futuro. Anche noi ce ne saremmo dovuti andare perchè il nostro piccolo paesino non ci avrebbe offerto la possibilità di poter lavorare. Anche mio padre e mia madre dovettero emigrare, in Francia, Svizzera e Germania e solo dopo molti anni tornarono a Luserna, ma mio padre lavorò sempre lontano dal paese e potè tornarci definitivamente solo quando andò in pensione. Per questo quella canzone, pur piacendomi molto, mi rattristava e mi riempiva di malinconia. Poi, per fortuna le cose sono un po' cambiate anche per il nostro paesino ed io ho potuto scegliere di rimanere qui, avendo trovato lavoro nella biblioteca comunale del paese.
Ora ti dico anche un po' di me. Ho 36 anni, sono sposata ed ho due figlie, Viola di 16 anni ed Arianna di 3. Io sono la penultima di 6 tra fratelli e sorelle, il maggiore ha 51 anni mentre il più piccolo ne ha 35. Sono l'unica che vive a Luserna, gli altri si sono tutti trasferiti in centri più grossi. Qui vivono anche mio padre di 83 anni e mia madre di 77. A Luserna c'è anche mia zia che di anni ne ha 85 e che mi chiede continuamente notizie di voi.
Ora ti devo salutare, ma spero di sentirvi presto. Un saluto anche ai tuoi famigliari. Luisa"

Luisa disse o seguinte:
"Parabéns pelo teu italiano, diria que é perfeito.
Não sabes a emoção que experimento ao te escrever, se penso que depois de 130 anos conseguimos reconstruir a linha de um discurso que parecia então perdido para sempre. Fico feliz também em saber que os parentes de Attilio Bertoldi entraram em contato contigo, pois, sendo também Anna irmão de meu bisavô, eu também sou parente deles.
A canção que você me escreveu conheço muito bem e uma pequena confidência que te faço, quando eu era pequena meu irmão a cantava e não se cansava de dizer que aquela era a canção de nosso futuro. Também nós tivemos que ir embora porque nossa cidadezinha não nos oferecia possibilidade de trabalho. Também meu pai e minha mãe emigraram para França, Suíça, Alemanha e só depois de muito tempo retornaram a Luserna, mas meu pai sempre trabalhou longe da cidade e só pôde voltar definitivamente quando se aposentou. Por isso, aquela canção, mesmo agradando-me muito, me entristecia e me enchia de saudades. Agora, felizmente, as coisas mudaram um pouco, também para nossa pequena cidade e consegui escolher e permanecer aqui, tendo encontrado trabalho na biblioteca municipal da cidade.
Agora falo também um pouco de mim. Tenho 36 anos, sou casada e tenho duas filhas, Viola de 16 anos e Arianna, de três. Eu sou a penúltima de seis filhos, entre irmãos e irmãs. O mais velho tem 51 anos e o caçula, 35. Sou a única que vivem em Luserna, os outros se mudaram para cidades maiores. Aqui vivem também meu pai com 83 anos e minha mãe, com 77. Em Luserna vive também minha tia com 85 anos e que me pede constantemente notícias de vocês.
Agora preciso despedir-me, mas espero se receber notícias rapidamente. Uma saudações também a todos os seus familiares. Luisa”

O encontro

*Veja as fotos no link no inicio da página
Depois dessa mensagem no final de agosto, passei alguns meses sem notícias da “prima” Luisa. Em novembro eu tinha viagem marcada para a Itália durante minhas férias no emprego, pois ainda trabalhava no jornal A Gazeta. Mandei vários e-mails pedindo para ela me passar o telefone, pois assim que chegasse na Itália, ligaria para ela, combinando um dia para ir visitá-la.

Só que sem nenhuma resposta, embarquei para lá no início de novembro. Fomos eu, minha mulher Maria Aparecida (Preta) e meu filho Rodrigo que tinha resolvido ir para ficar lá. Viajamos de São Paulo a Milão onde nos esperava uma amiga que havia se casado com um italiano e morava em Como. Levei o Rodrigo para Cornuda, na província de Treviso, onde iria ficar na casa em que moravam um sobrinho meu, Vinícius Arrivabene, e um amigo dele, Francis Chagas, cujos pais moram em Limoeiro, Marilândia, mesma terra de Vinícius.

De Milão fiz uma viagem de uma semana em Israel com minha mulher e ao retornar a Milão chegou à Itália minha filha Cláudia e então fomos todos para Cornuda, já que por lá vivem muitos brasileiros e sobretudo capixabas.

Treviso faz divisa com a província de Trento e determinado dia, resolvi procurar a parente Luisa em Luserna. Um capixaba de Colatina de nome Alessio, que já morava lá havia uns três anos, nos levou de carro até Luserna. Fomos até Levico Terme onde nos informaram o caminho. Era uma estrada ziguezagueando montanha acima e que, em determinados lugares só dava passagem para um carro.

Ao chegar a Luserna, a primeira coisa foi procurar onde era a Prefeitura. Na sede da prefeitura procurei a Biblioteca e pedia por Luisa. Um rapaz que lá trabalhava explicou que ela estava de licença médica e fazia tempo que não comparecia ao serviço. É que ela estava nos primeiros meses de gravidez e não havia passado bem. Depois de nos dar folhetos da municipalidade, inclusive um mapa onde havia todas as casas, já que o município tem apenas 392 habitantes, o rapaz que nos atendeu resolveu nos levar ele mesmo à casa de Luisa.

De repente, estávamos lá, na casa de uma bisneta do irmão de minha bisavó Maria Nicolussi. Estava ela e duas filhas uma de 16 anos e outra de quatro. Como chagamos lá já de tardezinha, não podíamos nos demorar pois o motorista não queria fazer o retorna na descida da montanha à noite. Ficamos cerca de uma hora e meia, deixamos fotos que tínhamos levado e tiramos outras com ela e as filhas e retornamos, com a esperança de visitá-la novamente antes de retornar ao Brasil. Só que isso não foi possível, pois o tempo passa muito rápido quando se está viajando.

Ao retornar ao Brasil e consultar novamente o computador e ler os e-mails recebidos, lá estava um de Luisa, no dia 7 de dezembro de 2005.
“Ora finalmente leggo tutti i messaggi che mi avevi mandato e capisco perchè sei arrivato in Italia e io non ne sapevo niente. Scusami tanto, ma, come hai potuto vedere, ero a casa in malattia e, avendo in corso anche il trasloco, ero rimasta anche senza internet. Così solo oggi leggo tutti i tuoi messaggi in cui preannunciavi il tuo viaggio in Italia e mi dispiace molto non averlo saputo perchè avremmo potuto organizzare qualcosa. La prossima volta che tu e la tua famiglia verrete in Italia, fatemelo sapere così ci mettiamo d'accordo. Non so se hai ancora il mio numero di telefono, in ogni caso te lo riscrivo per sicurezza:
340 3622931. E' il numero di cellulare ma dall'estero non so se devi comporre prima lo 0039 che è il prefisso dell'Italia.
Spero di rivedervi presto. Un abbraccio a tutta la tua famiglia, soprattutto a tua moglie e a tua figlia che ho avuto il piacere di conoscere.
Ciao.
Luisa"

A mensagem quer dizer o seguinte: “Agora, finalmente, lei todas as mensagens que você tinha me enviado e entendo porque chegou na Itália e eu não sabia de nada. Peço-lhes desculpas, mas como você mesmo pôde constatar eu estava de atestado médico e, como também estava mudando de casa, fiquei sem Internet. Assim, somente hoje li todas as suas mensagens nas quais avisava que viria para a Itália e sinto muito não saber antes pois assim poderia ter organizado alguma coisa. Na próxima vez que você e sua família voltares à Itália, avise-me com antecedência, assim combinaremos tudo. Não sei se tens meu telefone, mas mando de novo por segurança, o número .............. E' o número do celular mas do exterior deves discar primeiro 0039 que é o prefixo da Itália.
Espero reencontrá-lo logo. Um abraço a toda a família, sobretudo a sua mulher e sua filha que tive o prazer de conhecer. Tchau.
Luisa".

Daí para a frente, as mensagens continuaram, agora foram falando das coisas que iram acontecendo.
Como meu filho Rodrigo tinha permanecido na Itália, em junho de 2006 eu e minha mulher retornamos para lá. Foi na época da Copa do Mundo e assistimos aos três primeiros jogos do Brasil junto com a “galera” brasileira que vive por lá.

Enquanto estava na Itália, agora com mais calma, combinei um dia para visitar a parente Luisa, em Luserna. Nesse dia fomos eu, minha mulher e Rodrigo. Almoçamos com ela, o marido, as filhas e o recém-nascido filho dela. Passamos uns bons momentos novamente juntos e depois retornamos pela sinuosa estrada que descia da cidade “che stai sulla collina, distesa come um Vecchio adormentato”.

As mensagens trocadas entre a gente continuaram e ainda continuam, embora, agora, com menor freqüência. É o que acontece com as pessoas “da casa”. Em uma delas, do dia 9 de março de 2007, Luisa diz o seguinte:
“Ciao, come va? E' da un po' che non ho vostre notizie, purtroppo in questo ultimo periodo sono stata molto impegnata con la mia mamma e con il bambino piccolo. Da un mese sono rientrata al lavoro ed ora posso sicuramente leggere la posta più spesso. Oggi da noi, a Luserna, nevica e questo, dopo un inverno che non è stato per niente freddo, non ce lo aspettavamo anche se i nostri nonni dicevano che da noi la neve, se non è a gennaio, è febbraio o marzo, arriva sempre. La prossima volta che vi scrivo vi manderò anche la foto del mio bimbo, oramai ha già quasi dieci mesi e comincia a camminare. Vostro figlio è ancora in Italia? E voi, pensate di tornare presto? Fatemi avere vostre notizie, ne sarò molto contenta. Un abbraccio a tutta la vostra famiglia. Luisa."

Quer dizer o seguinte:
Olá, como estás? Já faz bastante tempo que não tenho notícias tuas. Infelizmente nesses últimos meses estive muito ocupada com minha mãe e meu filhinho. Voltei há um mês ao trabalho e agora posso ler as mensagens com freqüência. Hoje está nevando em Luserna depois de um inverno que não foi nada frio, pois não o esperávamos mesmo se nossos avós diziam que entre nós, a neve, se não vem em janeiro ou fevereiro, certamente vem em março. Na próxima vez lhe mandarei foto do meu filho, já com quase dez meses e começando a andar. Seu filho continua na Itália? E vocês pensam em voltar logo? Mande-me notícias que ficarei muito contente. Um abraço a toda a família. Luisa."